Foto: Serra d' Opa

Esta gazetilha regional é uma
homenagem modesta à
«Gazeta do Sabugal» (1926/28),
criada pelo casteleirense e ocelense
Dr. Joaquim Mendes Guerra.

As Beiras vistas do alto da Serra d' Opa!


domingo, 22 de dezembro de 2013

Historietas das nossas aldeias (4)





Caiu à vala
Por: Dulce Martins 

Tinha chegado o momento de instalar o saneamento.
A aldeia encontrava-se esventrada. O meu tio Narciso, boémio, malandreco e óptimo jogador de cartas, saíra de casa «ainda dia». A tarefa diária e fixa do jogo obrigava-o a regressar sempre alta noite!
Entretanto, o largo onde morava fora também aberto.
A vala ficava exactamente junto às escadas que ele tinha que subir quando regressasse.
A minha tia Isabel, sua mulher, sempre protectora, lembrou-se de lhe deixar um sinal, para ele dar conta do acontecido e não cair ali.
O candeeiro a petróleo, aceso, era uma garantia.
Ficou mesmo em cima do peitoril da janela que dava para esse largo.
Conhecia aquele marido há demasiado tempo e sabia que, àquela hora, ele já estaria demasiado animado!...
Bom, mas o meu tio, que terá carregado um pouco demais na pinga naquela noite, entrou no largo e ficou encandeado com a luz que vinha lá de casa.
«Olha! Para que é que ela pôs ali a luz?»
Catrapumba – para dentro da vala.
A minha tia Isabel acordou com o som da voz dele: «Zabeli!...ó Zabeli…!...»
Percebeu de imediato o que se passou.
Meio atordoada, lá foi ajudar o homem da sua vida!..
Já não há paciência daquela.


CONTE-NOS UMA HISTORIETA DA SUA TERRA

Vamos arrancar a sério com as historietas? Vamos a isso. Insiram agora os vossos contributos, para preservamos este património popular.
Já há uma quantas historinhas publicadas, que ficam nesta publicação de hoje, em edição minha (sorry, Natália Bispo, por usurpar por uns segundos a função de editor… deformações profissionais…). Em todo o caso, quem quiser consultar os originais só tem que aceder aqui: 
https://www.facebook.com/groups/DescendentesdoconcelhodoSabugal/permalink/564374366977953/
SEGUEM POIS AS HISTORIETAS JÁ ANTES CONTADAS
1
Natália Bispo 
Eu tinha um amigo, grande amigo, o Fernandinho, filho do Sr. Sousa...era tão meu amigo que quando a minha Mãe me queria mandar para casa da Avó Maria entregava-lhe o recado...ele apertava a minha mão, tanto...e só me deixava segura em casa da avó  eu chamava-lhe Nani...saudades!!
Um dia o Nani estava no Café dos meus pais (do Sr. Abilio) e um senhor médico  espirrou...e o Nani da cadeira onde estava sentado... "hoje não há circo!!" "porquê Fernandinho, perguntou o Sr. médico" "está o urso constipado" respondeu o Nani 
2
Josécarlos Mendes 
Vou então avançar com a primeira historieta da minha aldeia. Primeiro, o cenário. Quando ouvi este conto da primeira vez, era pequeno e o local era a beira da estrada mas por baixo do terraço da casa do contador mais exímio e com mais piada que conheci: a casa onde nasceu a Talinha (Natália Figueiredo Galego). Eu, miúdo, era todo olhos e ouvidos. O Sr. José Carlos Mendes Figueiredo era uma figura. E contava como um artista. Um dia explicarei tudo. Era Verão. Aquele espaço (e mais tarde a «esplanada» da casa da minha mãe) era um cenário de convívio permanente à noite. O Sr. José Carlos (estou a ouví-lo neste momento) contava que um dia numa viagem de comboio de Caria para Castelo Branco, um homem entrou num compartimento ou numa carruagem, já não me lembro e, daí a pouco, puxa da merenda e vai de comer. Mas comer muito. Cada vez comia mais. O padre que ia ao pé olhava, olhava… No fim do farto repasto, o homem solta esta: «Comi que nem um abade». E o padre, lá do sítio onde estava: «Que nem um abade, não. Abade sou eu e não como assim. Você comeu que nem uma besta!». O Sr. José Carlos ainda não tinha acabado a frase e já era gargalhada geral. Mais tarde, soube que esta é uma das origens do teatro de revista: o convívio alegre de vizinhos. Ali, era igual. Só faltavam as palmas... 
3
Josécarlos Mendes 
Outra historieta do Casteleiro. Há lá o costume de, quando alguém vai a um sítio sem saber porquê, se dizer assim: Vai como c' mò Mané Lêtão a Rebelhos. Porquê? A história é simples: havia lá um rapaz chamado Manel Leitão. Um dia à noitinha, o pai disse-lhe assim: - Ó Mané, amanhã hádes ir a Rebelhos. Mas não lhe disse mais nada. Nem sequer lhe disse o que tinha de ir fazer. Mas como o Manel era muito bem mandado, de manhã levantou-se, não disse nada a ninguém... e vai de arrancar para Rebelhos a pé. Só quando lá chegou é que seu conta de que nem sabia ao que ia... Voltou ao Casteleiro todo chateado a perguntar ao pai, então, o que é que ia fazer a Rebelhos. O pai fez um escarcéu do diabo, que toda a gente ouviu - e ficou este modo de dizer: - Olha, este vai como o Manel Leitão a Rebelhos!!!
4
Josécarlos Mendes 
Na minha terra conta-se uma história de morrer a rir. Quando a saudoso pai da Tàlinha Natália Figueiredo Galego) a contava, só faltava a malta rebolar-se, porque ele tinha o dom do colorido, das envolventes, e contava com uma boa disposição como ninguém que eu conheça. Então, foi assim (parece que a história é verídica: a coisa aconteceu mesmo). Havia lá um homem que fazia agricultura, mas não tinha carro de vacas. Mas até tinha vacas. Então, o homem andava sempre a pedir o carro deste, depois o daquele, e outro... andava o ano todo assim. Depois de alguns anos de toda a gente lhe emprestar o carro, um dia alguém deu a ideia, juntaram-se todos e mandaram fazer um carro de vacas para ele e deram-lho. Ele viu o carro à porta, achou estranho, mirou e remirou. Mas, claro, aceitou. E nesse instante, não disse nada. No dia seguinte, perguntaram-lhe na tasca: - Então, agora já tens carro... Reposta dele de imediato: - Já, já. Agora venha cá algum filha da p... a pedir-mo!!!!    
5
Josécarlos Mendes 
Fim por hoje: o Manel Cigano era um tipo porreiro. Filho do ti Mário Cigano - tudo boa gente. Eu conhecia a família toda. E paravam muito por ali, no olival, nos Italianos e tal. Como não fazia nada, o Manel andava sempre a rondar, quando o pai e a família passava e estacionava aos quinze dias no Casteleiro. Depois, o tempo passou, eu já tinha vindo da tropa, só lá ia de férias, mas levava-lhe sempre alguma coisa: roupa, calçado... tudo pouco usado, para ele se aconchegar. Mas um dia foi demais. Chegámos de Lisboa, sentei-me ali no banco um bocado a conversar e a descansar... e chega o Manel Cigano, também. O Manel, senta-se, recebe a roupa que levávamos para ele, olha-me para os pés, vê os ténis (novinhos em folha: só fizeram a viagem Lisboa-Casteleiro nos pedais do carro...) - e dispara, com aquela sua forma bem especial de falar, pois era sasso (dsadsso): - Ó dsô Dzé, dê-me tamãe edsseds dsapatinhods... E eu: - Eh, pá, ó Manel. Então comprei-os ontem, pá. Ele: - Ó dsô Dzé, dêmods lá... Bom, eu aí não resisti e não disse mais nada: descalcei os ténis e disse: - Vá toma-os lá... E dei-lhos. Ele, dentes de fora, num sorriso alargado, como só ele sabia fazer por maroteira, pega nos sapatos e corre lá para cima para o sítio onde tinham a tenda. E lá fui eu, descalço por chacota, à loja do Sr. Tó Pinto comprar outros ténis... Daí a bocado, vem ele por aí abaixo, bem vestido, bem arreado... Pára ali, todo ufano vestido com a roupa que a gente tinha levado. E alguém lhe disse: - Ó Manel, pareces um dòtor... Trazia também os ténis, claro. E eu, a pensar que estava tudo bem, muito bem, perguntei-lhe: - Então, Manel, gostaste dos ténis? E ele, de repente: - Ó dsô Dzé, são bonitos, mas ficam-me um bocado apertadods. À outra bedz, compre um númaro adcima!!!! Foi gargalhada geral, claro. Ah, ganda Manel, por onde andarás - se é que ainda por aí andas, seja na Espanha, para onde foste, seja por cá. Fizeste-me rir nesse dia e sempre que me lembro da coisa. E isso não tem preço!!!!! Obrigado, meu amigo Manel Cigano!!!! In «Descendentes» / Facebook


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