Caiu à vala
Por: Dulce Martins
Tinha chegado o momento de instalar o saneamento.
A aldeia encontrava-se esventrada. O meu tio Narciso, boémio, malandreco e óptimo jogador de cartas, saíra de casa «ainda dia». A tarefa diária e fixa do jogo obrigava-o a regressar sempre alta noite!
Entretanto, o largo onde morava fora também aberto.
A vala ficava exactamente junto às escadas que ele tinha que subir quando regressasse.
A minha tia Isabel, sua mulher, sempre protectora, lembrou-se de lhe deixar um sinal, para ele dar conta do acontecido e não cair ali.
O candeeiro a petróleo, aceso, era uma garantia.
Ficou mesmo em cima do peitoril da janela que dava para esse largo.
Conhecia aquele marido há demasiado tempo e sabia que, àquela hora, ele já estaria demasiado animado!...
Bom, mas o meu tio, que terá carregado um pouco demais na pinga naquela noite, entrou no largo e ficou encandeado com a luz que vinha lá de casa.
«Olha! Para que é que ela pôs ali a luz?»
Catrapumba – para dentro da vala.
A minha tia Isabel acordou com o som da voz dele: «Zabeli!...ó Zabeli…!...»
Percebeu de imediato o que se passou.
Meio atordoada, lá foi ajudar o homem da sua vida!..
Já não há paciência daquela.
In «Descendentes» / Facebook
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